sexta-feira, 25 de maio de 2007

Os brasileiros precisam ter uma visão mais global

Os executivos que comandam empresas no Brasil ainda não estão prontos para atuar como líderes globais. Falta um contato mais estreito com a cultura e a economia de outros países. Realidade que só deve acontecer quando um número maior de companhias nacionais abrirem operações em novos mercados. É o que acredita Jean-Pierre Lehmann, professor de economia e política internacional do IMD, renomada escola de negócios, sediada em Lausanne, na Suíça. "Apesar das multinacionais terem se instalado aqui, poucas empresas brasileiras foram para fora. E é essa troca de experiência que faz a diferença", afirma.
Na sua opinião, os chineses levam vantagem porque invadiram o mundo ao montar filiais em vários lugares. "Não são só os grandes grupos, mas vemos as pequenas e médias companhias chinesas desbravarem territórios até então pouco explorados". Em paralelo, outro ponto destacado por Lehmann é a necessidade de no Brasil se investir na formação dos CEOs (Chief Executive Officers). E mais uma vez, cita a China como exemplo. Segundo ele, renomadas escolas de negócios desembarcaram naquele país, a exemplo da Harvard e do Insead, visando uma educação mais global.
"O próprio IMD desenvolveu mais de 10 programas na China", conta. Ele cita o caso da Vale do Rio Doce, que aposta em um curso voltado para a formação de líderes globais, do qual já participaram mais de 100 pessoas. Nos últimos 15 meses, 250 executivos brasileiros de companhias como Votorantim, Banco Itau, Odebrecht, Camargo Corrêa, Petrobras, Nestlé, HSBC e Shell passaram por cursos abertos e sob medida da escola. "Número muito parecido com o de participantes chineses. Mas eles estão na frente porque investem com freqüência nesse tipo de iniciativa", ressalta .
Recentemente, Lehmann - especialista em globalização, governança, comércio e desenvolvimento; autor de diversos livros e ex-diretor do Instituto Europeu de Estudos Japoneses, na Escola de Economia de Estocolmo - esteve em São Paulo pela 12 ª vez para ministrar de um seminário. O tema: "Os desafios da liderança brasileira na economia mundial do século XXI". Lehamann concedeu a seguinte entrevista:
Como o senhor vê a liderança brasileira diante do cenário mundial?
Jean-Pierre Lehmann: É uma questão de mentalidade e só agora as pessoas estão acordando que o país é capaz de ocupar uma posição de liderança. Existe uma mudança significativa no paradigma econômico mundial que está a favor do Brasil. Isso significa que o país vem se estabilizando para apresentar um desempenho cada vez melhor na economia mundial. Há 10 anos venho fazer algumas palestras e percebo que essas mudanças são reflexo da visão do governo e dos empresários.
Entre os países emergentes, quem está mais preparado para lidar com a globalização?
Lehmann: Sem dúvida, a China. Até os anos 80 e 90, os chineses viveram um período complicado, sem qualquer tipo de investimento. Mas após a revolução, eles promoveram um processo de abertura de mercado impressionante. Costumo dizer que os chineses abraçaram a globalização. Não é à toa que eles vêm invadindo o mundo. A Índia também entendeu que precisava reagir e possui ONGs muito ativas, além de investir em setores bastante interessantes como o de tecnologia da informação, do aço e da indústria farmacêutica. No entanto, de uma maneira geral, vejo que China, Índia , Brasil, Indonésia, Tailândia e México devem desempenhar um papel de liderança cada vez mais importante no comércio global. O que exigirá de todos uma postura mais dinâmica.
Por que muitas economias ainda patinam?
Lehmann: Esses países passaram muitos anos olhando para si próprios, adotaram uma postura passiva e deixaram de ser personagens ativos na economia mundial. Com a velocidade da globalização, perceberam que era essencial se mexerem. Acredito que no Brasil precisa acontecer essa mesma revolução que aconteceu na China. Depois de 15 anos de árduos esforços, a China conseguiu entrar na OMC (Organização Mundial do Comércio), o que representou um salto e uma nova fase. Eles não só atraem investimentos como vêm entrando em novos mercados, abrindo filiais em outros países.
Essa é uma das vantagens da China em relação ao Brasil?
Lehmann: Sim. Poucas empresas brasileiras têm se instalado na China. Temos o caso da Embraer e algumas outras grandes. Mas ao contrário do Brasil, os chineses estão expandindo sua presença tanto aqui quanto em outros lugares por meio das pequenas e médias companhias, que montam operações locais.
Na sua opinião, os presidentes que comandam empresas no país estão prontos para atuarem como líderes globais?
Lehmann: Não. Eles precisam ter mais contato com a cultura e a dinâmica da economia de outros países. E não adianta apenas ter experiência internacional. Por isso defendo a ida de um número maior de empresas nacionais para fora, ao mesmo tempo em que mais companhias de fora deverão se instalar localmente. Só assim, esses executivos aprenderão a ter uma visão global. Esse cenário ainda é muito limitado. Quando vim de Paris, percebi que cerca de 30 chineses estavam no avião para desembarcar em São Paulo. O contrário é mais raro.
Mesmo com as multinacionais instaladas aqui? Todos os maiores grupos estão presentes por meio de subsidiárias.
Lehmann: Sim, as multinacionais se instalaram aqui, mas poucas brasileiras foram para fora. É essa troca de experiência que faz a diferença. Os chineses estão aprendendo porque passaram a desbravar outros mercados. A globalização não pode ter alguns focos, mas precisa se tornar um fenômeno nacional. Vamos tomar como exemplo outro fato que acontece na China. Há mais chineses aprendendo inglês do que a população dos Estados Unidos. Já é comum ver executivos, engenheiros e traders falando fluentemente o inglês.
Agora, se compararmos China e Índia, qual deles se destaca no mercado mundial? E o Brasil?
Lehmann: Há muita competição entre os países que dividem a bola, o que é muito saudável. A vantagem da China é que ela se destaca por focar na manufatura. Enquanto a Índia ganha pela excelência em serviços. O Brasil ainda precisa dar importantes passos para desempenhar um papel de liderança. Embora tenha melhorado muito, a política macroeconômica brasileira enfrenta entraves. Claro que houve uma recuperação após o Plano Real e o controle da inflação. Essa estabilização da economia é positiva, porque não tem como um país se voltar para fora se tiver uma economia desorganizada. Hoje, o país já conquistou posição mais favorável junto à OMC, mas Índia e China possuem chances maiores de crescerem, porque têm PIB menor. O seja, para o Brasil o desafio é aumentar o PIB, por estar em um patamar mais alto. Só que ao invés de um índice de 3%, o país deveria atingir a casa dos 5% ou 6%.
Qual o maior entrave para esse crescimento?
Lehmann: Economias líderes são aquelas que encorajam os empreendedores. E o Brasil sofre com a burocracia. O tempo para se abrir uma empresa demora muito e esse não é um ambiente favorável. Impedindo também a geração de novos empregos. Sem contar a corrupção que atrapalha bastante o crescimento do país.
Temos visto alguns executivos brasileiros ganharem destaque no exterior. Teremos mais estrelas brilhando lá fora ou eles ainda precisam aprender a ter uma visão mais global ?
Lehmann: Carlos Ghosn, que salvou a Nissan é um dos mais respeitados homens de negócios na França. Encontramos alguns outros, mas defendo a necessidade de se investir na formação dos CEOs (Chief Executive Officers). Na China estamos vendo uma corrida desenfreada nesse sentido. Há, inclusive, renomadas escolas de negócios que fincaram bandeira naquele país, a exemplo da Harvard e do Insead, visando uma educação mais global. Nós do IMD desenvolvemos mais de 10 programas na China. E não basta só os presidentes se preparem. A empresa toda precisa se globalizar. Do Brasil, a Vale do Rio Doce participa de um programa voltado para a formação de líderes globais. Por ele, já passaram mais de 100 pessoas. Nos últimos 15 meses, 250 executivos brasileiros de companhias como Votorantim, Banco Itau, Odebrecht, Camargo Correa, Petrobras, Nestlé, HSBC e Shell passaram por cursos abertos e sob medida da escola, número muito parecido com o de participantes chineses. Mas os chineses investem com mais freqüência nesse tipo de iniciativa.
Fonte: Andrea Giardino na Revista Digital - uma publicação on-line da Pólo RS - Agência de Desenvolvimento.

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